Táxi Bala

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Por: Mona Vilardo

Meu primeiro texto aqui no Literarte fazendo parte da equipe de autores. Semana passada, como artista convidada, apareci aqui com o texto “A casa dos pais”. E fiquei muito feliz em entrar pra esse time que propaga a arte no mundo.
Dá pra ver que gosto de escrever sobre o dia a dia e coisas que acontecem ou não nas minhas semanas, no meu mês, no meu cotidiano.
Sabe aquelas pessoas que atraem desconhecidos na rua, na fila do mercado, do caixa eletrônico, no táxi, no Uber? Prazer, essa pessoa sou eu. Alguns desconhecidos olham para mim e parecem que enxergam a seguinte placa pendurada no meu pescoço: “Olá, pode começar a falar. Sou toda ouvidos e tô aqui pra te ajudar” E assim é. Realmente sou toda ouvidos. Me atrai a história do outro, me encanta poder ajudar e, claro, dá asas a minha imaginação. Bem, guardem essa informação sobre mim. Hoje começo a trilhar junto com vocês, meu caminho aqui no Literarte.

Táxi bala

Fim do dia, já cansada e querendo chegar logo em casa, resolvo pegar um táxi! Pois é, mesmo na época do Uber, às vezes pego táxi. Parece que sinto uma certa tristeza em ver aquela quantidade de táxis no ponto, quando outrora eram eles que reinavam na praça. Aí, eu olho a cara do taxista e, se ele tiver uma cara boa (sei lá o critério para isso), eu pego o táxi.
O motorista tem uma cara fofa, cabelos brancos e me dá um boa noite agradável. Coloco o cinto de segurança (momento preservação da espécie) e ele logo diz:
– É, senhora, hoje eu estou muito triste. Tô até tomando uns remédios…
Nesse momento, “O fantástico mundo de Mona” vem com força total e, em segundos eu imagino o motorista virando para trás com uma arma em punho gritando pra mim: “E a senhora vai ser a última passageira que eu pegooooo, pois eu vou te matar e me matarei em seguidaaaaaaaaaaaaaaa. Eu odeio a vidaaa!!!” Pronto. Fim da história.
Preciso contar outra coisa sobre mim: eu tenho “O fantástico mundo de Mona” na minha cabeça desde muito cedo, esse era o nome de um desenho que eu adorava: “O fantástico mundo de Bob”.
Ao mesmo tempo que imagino essa tragédia, eu me acalmo e faço jus a placa imaginária, lembram?
O diálogo então começa:
– Poxa, senhor. É mesmo? Não fique assim.
– É, senhora, o meu casamento está muito ruim.
– Ah, que droga (eu sem ter o que falar…nem o nome do senhor eu sabia, vou dar pitaco em casamento alheio?)
– É, mas o que mais me deixou nessa tristeza toda foi depois que meu filho me contou que é gay.
Ops!!! Esse senhor quer mesmo conversar, penso enquanto deixo ele seguir.
– A minha esposa aceita mais, mas eu não aceito. E sabe, me afastei dos meus amigos taxistas por conta disso. Sabe como é taxista, né, senhora?
Não, não sei… tenho cara de quem vive enturmada com os taxistas???, continuo pensando.
– Então, dona, quando passa na rua algum homossexual, meus amigos taxistas logo falam: “Prefiro ver meu filho morto a ter um filho gay.”
Eita que temos um problema enorme aí! Sinto que preciso falar algo para ele.
– Aí é isso, dona, tô tomando uns remédios, mas ando muito triste.
– Senhor, não pense assim. E se o seu filho fosse procurado pela polícia? Um assassino. (Peguei pesado, eu sei) O senhor iria preferir isso a ele ser homossexual?
– Nossa, dona! É verdade! Claro que não! E meu filho é um ótimo menino, só que tem isso aí. (Tem isso aí = é gay.)
Esses “amigos” taxistas tão fazendo um bem danado para esse senhor, hein? #sqn
Continuo…
– Olha, senhor, com certeza o seu filho tem muitas qualidades que o senhor aprecia. A orientação sexual dele não é um defeito. Ele é seu filho.
Nessa hora eu me lembro de uma música que fez sucesso em 2017: Trem bala. “Segura teu filho no colo… sorria e abraça os teus pais enquanto estão aqui”
Meu destino tá chegando e eu faço um trato com o taxista. (Usando fortemente a função da tal placa que carrego)
– Senhor, vamos fazer o seguinte: o senhor vai chegar em casa hoje, abraçar o seu filho e dizer o quanto gosta dele. (Falo separando com rapidez o dinheiro da corrida.)
– A senhora me deu uma boa ideia. Isso mesmo, eu vou fazer isso hoje! Olha, foi ótimo conversar com a senhora! Me fez muito bem!
Dou adeus, desço do taxi.
A música continua na minha cabeça “que a vida é trem bala parceiro, e a gente é só passageiro prestes a partir”…

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