Por: Raquel Alves Tobias

Um ruído silencioso envolve a sala. O controle espera sobre a mesa pela mão que irá mudar de canal.
As histórias de hoje do velho BUK lembram as feiras da semana, uma repetição cíclica desinteressante. O sol brilha na almofada da poltrona em forma de ondas, desenhando a cobertura metálica da garagem. Lentamente o dourado ergue-se com o pôr do sol. Há gritos vindos da TV do outro lado.
Na pele corre uma minúscula formiga foragida das entranhas infantis e doces do sofá. Soltou-se da trama tecidual densa onde alimentava-se de migalhas. Seu caminhar exploratório acabou findando em sua morte. Brava criatura.
Dois quadros geminados de halo dourado expõem labirintos vagos.
E em meio a toda descrição, emerge o indiscreto pensamento que me leva até você.
Assim como todos os caminhos.
Assim como toda a espera.
E entre todos os por ques oscilam o sono e a queimação.
Contradições ácidas.
Seria o amor uma dor epigástrica?
Uma úlcera nascida de corrosão estática?
De quem procura e nunca acha?
De quem dorme para que não arda?
Pois queimar leva à alma,
E a conexão, à frustração.
Então, levanta fumaça!
Coração em combustão…

Raquel Alves Tobias


Créditos da imagem: Pixabay

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