Grão e Migalhas
Por: Diogo Verri Garcia
Nesta quarta-feira, escrevo a poesia autoral “Grão e Migalhas”, publicada no ano de 2006 na antologia “Poesias Brasileiras”, sob o nome de “Migalhas”. Espero que gostem.
Rio de Janeiro, 01/08/2018
“GRÃO E MIGALHAS”
Por vezes, insistem em dar migalhas,
Enquanto minha mente anda morta de fome.
Fome por fome, estou acostumado,
Mas não acho engraçado não saber ler meu nome.
Parece até princípio de fim.
Meio de vida é qualquer um, afinal.
E se não acho um caminho certo para mim,
O fim, no início, é normal.
Há quem diga que é um direito o estudo,
Mas na vida só conto mesmo com a sorte.
Se há equidade no mundo? Não creio.
Somos iguais só na hora da morte.
E para quê me falar de educação,
Se cultura, aqui, só se conhece de retrato?
Não dá não, doutor! Isso é pra filho de patrão.
E como comprar livro, se mal consigo ter um prato?
Começo a achar que estudo é pra quem pode.
Sigo sem vida, sem letras, sem saber.
Não sei se é culpa de Deus, do mundo, da sorte,
Ou se é só minha, por não saber ler.
Prevejo piada em querer diploma em moldura,
Porque para mim já é muito ter nada.
Se alguém nos desse algo mais de cultura,
Deixava de vez o cabo da enxada.
Mas tem moço que parece não ver.
Saber, até sabe, mas finge que não.
No fim, para os nossos, farelo.
Para eles, fartura e quinhão.
Mas de que me adianta farelo sem grão?
Moço, dê-me uma escola,
Que lá eu aprendo. E depois faço meu pão.
Diogo Verri Garcia
(Poesias Brasileiras. 3. ed. São José do Rio Preto: THS Arantes Editora, 2006).
Créditos da imagem: Disponível em: < https://pixabay.com >. Acesso em: 01 ago. 2018.