Playas del Sol
Por: Diogo Verri Garcia
PLAYAS DEL SOL
Águas sem fim,
Sotaques ouvidos,
Primavera que poderia ser quente.
Se, em outrora, fostes menos aguerrido,
Este solo, serias parte de imenso Brasil.
Nesta terra bela, de vento rastejante e exibido,
As leves tardes, em esquinas de quatro mares, aqui, são diferentes.
Taças constantes sendo postas à mesa,
Que se enchem e se esvaem feito a maré ali no mar.
Sol, que se faz como eterno farol aceso,
E o farol, que põe as tardes a descansar.
Erguem-se as mãos afogadas na areia,
De maré a marear, em playas bravas e mansas.
Tem cheiro de azeite, de vinhedo verde e de flor,
Tem igreja e a Santa Candelária pondo o mar em andor.
Tem peixe a assar
Sem pescador em labor, que descansa…
Há algum gosto a mais de Marselan e de Tannat, e efeito de bom terroir.
O sol se põe, em cerimonia ao seu culto,
Expõe a branca casa à negridão da natureza.
Para que no breu da noite se reúnam os adultos,
Entre pianos e salões,
Brindem ao autor,
Aproveitem a escureza.
A noite roda, ludibriada em lua – não chove -, sob moderadas estrelas.
Resisto a apostas, pois tenho noutra a minha sorte.
E no jogo que aqui jogam, ninguém sabe jogar:
só se perde, não se ganha; a derrota é um litisconsorte.
Taças a mais, por favor.
Passantes, luzes, casa cheia.
É a madrugada que passa feito maré,
Que hora é alta, que hora mal toca a areia.
O tempo é rápido: amanhã me encaminho.
O curso do Rio se faz pelo céu.
Aqui, que me encontro tão longe de casa,
Jardim tranquilo de águas mansas e rasas;
Aqui, que estou a alguns passos de Montevidéu.
Cartas! Cartas? Não, somente taças, por favor.
Mas é tarde, hora de parar…
Concluo: tanto aqui, tanto acolá,
É perto do mar que se quer estar.
Punta del Este, 26 de setembro de 2018.
(Diogo Verri Garcia)
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Crédito da imagem: Cristina Dagnone. Casa Pueblo. Uruguai. Arquivo pessoal. Set. 2018