Conto às três vidas
Por: Diogo Verri Garcia
(Conto às três vidas)
O relógio não anda para trás:
O tempo passou.
Já aqui, o conto de três vidas jaz.
Que tivemos, feito o som tão leve,
Mas que escorreu na misteriosa imprevidência,
Tal como o silêncio das coisas, a ausência
Que há no ponto final de uma bossa.
Três vidas: a minha, a tua e a nossa.
A minha, que andou modificada,
Digo, até grata, essa vida que foi
Por ter tido, em algum tempo,
A presença tua.
Mas que não suportou, posto que sufocada.
Levou um pouco de ti,
Deixou tanto de si,
E, estando livre, foi comemorar nas ruas.
A tua, que começou sem graça,
Até calada, meio que negando
O que existiu logo no primeiro momento.
Mas quando sentiu-se enraizada,
Havia já deixado outra vida cansada,
Posto que insegura, de alma dura,
Não segurou viver os bons momentos.
A nossa, de que haverá lembrança,
Até que a idade apague
E registre ao longe,
Junto a tantos outros cantos ocupados da memória,
Uma caixa a mais.
Anestesiando, se restou tormento.
Recordando apenas as bonanças,
Risos fáceis e ordenança.
Contando com a intercessão do tempo,
Que então deixará
Em sua versão,
Só felicidade e paz.
(Diogo Verri Garcia, Rio, 04/01/2020)
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