TEOREMA DA VIDA GERAL
Por: Diogo Verri Garcia

TEOREMA DA VIDA GERAL
O professor de sábado,
Que aqui se chama descanso,
Questionou a aula da vida,
Sempre tão árdua, sem frescor, sem balanço.
O mentor da sexta-feira, denominado prazer,
Lamentou por trabalhar durante o dia,
E só ter a noite para se satisfazer.
O de terça-feira, que se apresentou vaidade,
Impôs que chegaria atrasado,
Daria ordens, valeria sua vontade.
A de quinta-feira, de todos, a mais iludida,
Propôs acabar logo o dia,
Pela chegada de uma sexta-feira descompromissada e descomprometida.
A tutora de quarta, de alcunha rotina,
Reclamava da sina, era pedante, avisava-se ser também cretina:
Até a Quarta-Feira de Cinzas decidiu levar a mal,
Pois justo no seu dia terminou o carnaval.
O professor de segunda demonstrava preguiça,
Por nada se mexia, exceto por interesse, por cobiça.
O de domingo, tido no rosto como incauto e descrente,
Pensava na tola mesmice de uma semana inteira pela frente.
Mas alguém propôs uma reforma visceral,
Idealizada pela vida, sábia maestrina, coordenadora-geral.
Prometeu que a rotina seria árdua, mas bela.
Que começaria cedo o dia,
Antes mesmo de a luz do sol romper a janela.
Que em todas as horas haveria estudo, dedicação e trabalho;
Afastou a cobiça, que só pleiteava salário.
Trouxe para cátedra a fé, a virtude, a caridade,
O empenho, a organização, a honestidade.
Afirmou tempos felizes, esplendorosamente mais mansos.
Contemplou que, passados os trabalhos, maior seria o descanso.
Problematizou que tudo dependeria do esforço inicial,
Propôs que a perseverança fosse séria e real.
Sobraria tempo para viajar, para o amor perfazer.
Que o labor seria o bem-querido, também por aceder.
Porém, dali em diante, algo começou a mudar.
Nem tantos alunos mais foram às aulas, ou quiseram se matricular.
Opuseram-se à vida, recomendaram levante,
apresentaram questões, indagações, em revoltosos cantos a bradar
– e teve-se aí um novo problema.
Concluiu a vida: muitos pelo mundo se iludem,
Nem todos desejam o esforço, a correção, o trabalho, o lutar.
Talvez, como em um espelho, põem-se a escolher,
na mesma verdade que em seu intento há.
Eis, de forma real, da vida geral, o teorema…
(Diogo Verri Garcia, Rio de Janeiro, 18/08/2018)
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