Democracia ou festivais
Por: Diogo Verri Garcia
No fundo, nunca o serão.
Mas serão intensos,
serão de menos, serão de mais.
Idênticos, nunca se tornarão;
Sequer parecidos:
eleitores e amores nunca são iguais.
O princípio da escolha é condição para a democracia.
Mas entre nós dois não há Estado,
estamos todos a viver.
Falantes, risonhos, tristes ou distantes
– que se abra outro frisante -,
Olhos nos olhos, fim de tarde,
noite fria.
E te pergunto, flor: que te basta para escolher?
Na observação da alma, os olhos são fundamentais;
Na condução do barco, desejante o vento voraz;
Na explosão do beijo, há puxões, unhas e palmas;
Na angústia do voto, balança a calma.
Como disse Castells, em Ruptura:
“Pois bem, se as coisas são assim”,
O que posso fazer por outros
por seu próprio bem?
O que posso fazer por eles
se não faço nem por mim?
Há eleitores comedidos que também nos leram.
Outros, pouco contidos, são cegos, mas edazes.
Democráticos são só os beijos que mais se esconderam
Despóticos são os momentos em que tentamos as pazes.
E tu, o que tu fazes?
Tanto fez, não há o que se mude mais:
Eleitores e amores nunca nos darão completa paz.
Andam tão intensos quanto o balanço do barco
nauseado em temporais.
Chegam a ser só combativos,
mais desprecavidos que as paixões de festivais.
E então, com toda razão, ela pergunta ao rapaz:
– e aqui, o que no amor se faz?
Há democracia: entre nós dois, que não se mude.
Que haja progresso e paz.
(Diogo Verri Garcia, Rio, 31/10/2018)
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