A dizer sobre o verso
Por: Diogo Verri Garcia
A dizer sobre o verso,
Certa vez expuseram
Que melhor poeta vive da tristeza,
Pois narrar em vida grandeza
não marca e não graceja
tanto quanto falar da saudade.
Que poesia boa ou é tragédia ou é autoajuda,
Que o verso a si mesmo desnuda: é escrito porque há vaidade.
Expuseram que o poema é perda de tempo,
que serve de alimento para quem nada tem ou quer.
Que é só palavras em andamento, assentada sem intento,
Que não acresce, não cria aquisições
e ilude feito uma fé.
Alegaram que poesia amorosa é desgraça,
É o arrojo de um sem graça, incauto pelo que não viveu.
Ou pior, que a poesia afrontosa é pirraça,
tamanho o dano de arruaça,
plasmado em alguém que algo ou muito perdeu.
Dispuseram que em ocupada vida
não há tempo hábil para fazer poesia,
tentativa de impor ao mundo sua própria desordem.
Mas se esquecem que a palavra que amargura, igualmente reata,
Que a poesia, por si, não diz nada,
Quem dita o caminho é que o percorre.
É inato: não procuramos o verso,
ele é quem nos procura.
É Inoportuno, justo quando não se consente,
Quando a tristeza é premente
ou quando é nulo o luto,
ele vem.
E sem descalabros nem cerimônias ao procurar,
faz-se em rimas,
rimando o anverso de tudo o que há
E procurando, sabe bem por quem:
por alguém, o poeta.
(Diogo Verri Garcia, Rio de Janeiro, 03/01/2019)
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