Senhora da Passagem (Visita-se a Vida)
Por: Diogo Verri Garcia
Se a vida fosse justa, não seria vida.
Justeza verdadeira há só na morte,
Que leva a todos: a ti, a ele, a outros.
Garante uniformemente a mesma sorte.
Assim, a senhora da passagem recebia
todos quantos chegavam, sem pesares, nem contras, nem prós.
Por vezes, vezes e vezes, seu verso repetia.
Recebeu poetas, malandros, pessoas nossas, fidalgos, heróis.
Até ela, porém, não mais admite
Que todos tantos vão e vêm,
E a vida, inquietante que palpita, só assiste.
Feito turista, encantou-se pelo que outros acham ser corriqueiro,
Queria ter um mês ou dois; ou mês e meio
Para sentir a brisa no rosto,
Para pisar na água que molha a areia do mar.
Para ver, só por ver o mundo que rumina,
assistir crianças e meninas,
perceber o tempo passar.
E, assim, declarou aos atentos e aos dispersos
Que teria plenas horas vagas, na vida, à passeio.
Todo mês, nem menos que um dia, nem muito mais que um dia.
Exatamente: um dia e meio.
(Diogo Verri Garcia, Rio de Janeiro, 2018)
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