Quando as Farmácias Fecharem
Por: Mona Vilardo.
A palavra “apoteose” vem do grego, onde APO significa “alto”, e THEOS, “deus”. Representa a elevação de alguém ao estatuto de divindade.
Diante do significado dessa palavra, posso dizer que o meu Carnaval de 2019 foi apoteótico.
Essa palavra se encaixa perfeitamente no Carnaval do Rio de Janeiro. Na Apoteose do Samba, onde desfilam escolas que se dedicam um ano inteiro para essa época do ano, o “deus” é o próprio gênero musical, nascido no Brasil, mas precisamente no Rio, pelos lados do Estácio, “bem junto ao passo do passista da escola de samba” (já cantava Luiz Melodia)
Mas a minha apoteose foi muito distante da cidade maravilhosa, lá onde os deuses são mitológicos, celebrados por todos os cantos, pontos turísticos e em camisetas estampadas “Só sei que nada sei”.
Alguém já sabe arriscar onde foi?
Acertou quem pensou na Grécia (Hellas).
Poderia escrever uma grande declaração de “philia” ao bloco carnavalesco de 18 pessoas que estavam comigo lá, no “Templo da Civilização”, mas escolho me ater ao que ficou muito marcado em mim: a dificuldade de encontrar farmácias pela rua.
Que curioso! Na terra de Hipócrates, considerado o pai da medicina, não se encontram quase farmácias. Nenhuma oferecendo grandes descontos na compra do melhor remédio pra dor de cabeça, estômago ou aquela bolinha que te livra da ansiedade.
Na terra de Hipócrates, eu encontrei ARTE para todos os lados, encontrei flores no inverno e muitas árvores de tangerina. Diante dessa constatação, tirei algumas conclusões que divido com vocês.
Quando as farmácias fecharem, teremos menos doentes.
Quando as farmácias fecharem, teremos mais sorrisos largos e mãos dadas.
Quando as farmácias fecharem, teremos menos corre corre e mais “Bom Dias” – Kalimera, em grego.
Quando as farmácias fecharem, teremos olho no olho e mãos estendidas.
Quando as farmácias fecharem, teremos a tal apoteose de uma sociedade menos doente e mais humana.
Talvez, quando isso acontecer, o que é considerado divino para cada um esteja mais perto de nós, menos inalcançável ou, até mesmo, menos perturbador para alguns.
Apoteótico foi ver as farmácias fechadas numa Atenas viva e cheia de significado.
Voltando à música de Luiz Melodia: “Se alguém quer matar-me de amor, que me mate no Estácio…”
Com todo respeito ao negro gato, saí da Grécia cantando “Se alguém quer matar-me de amor, que me deixe aqui mesmo”
Opa! Tha ta Pume, Hellas!
* Opa é o que os gregos falam quando estão muito felizes e algo bom aconteceu.
*Tha ta Pume – Os gregos não dizem tchau, dizem “até breve”. Tha ta Pume.
Parabéns! Texto muito bom… Quiçá um dia tenhamos menos farmácias e um povo mais saudável!
CurtirCurtir
Maravilhoso, Mona!!! Inspirado pelo berço, pelo nosso berço, com olhar aguçado de quem vê o mundo por outra lente,! De quem sente por outro sentido, o sétimo, o da arte!!!!
CurtirCurtir
Belo texto, sensível percepção traduzida artisticamente. Fico com a reflexão… Por gastarmos em farmácias, ficamos distantes da possibilidade de investir em viagens o tanto quanto seria saudável.
CurtirCurtir
Que beleza!! Os gregos têm muito a nos ensinar!! E a fortalecer nossa humanidade!! Parabéns Mona!!
CurtirCurtir
Que leitura deliciosa e vontade de viver num lugar com menos farmácias e mais flores, mais árvores, mais abraços, mais olhos no olhos, mais amor…sei que esse dia vai chegar e eu também vou estar de braços abertos para recebê-lo. Obrigada, Mona!
CurtirCurtir