Por uma Bossa Nota
Se tivesse tão boa vontade, te daria uma nota
Que não demore mais
que muitas frações de segundos, uma semibreve.
Para tornar teu sorriso ainda mais leve
feito a canção que leve
à bancarrota
As tolices mais idiotas
Que, quanto a mim, te deixam confusa.
Se tivesse uma inspiração,
talvez não sei se te faria
uma graça qualquer, um feito em melodia,
uma poesia,
Que atravesse essa mesma mania
De não querer mais quem até ontem quiseras.
Isso amedronta, maltrata e usa,
Feito blusa que tanto aperta que
machuca a pele.
São tuas as palavras mais bobas,
Que inebriam, causam tanto brilho
Num almoço qualquer de um março vazio.
São tão leves as tuas paixões
Tontas e estonteantes
como bolhas de frisante,
que, passado o tempo, dispersam.
E pra quem sobra, fica o copo vazio:
Sente-se entediante,
Do qual riem todos, vestido de comediante.
Afrontando seu próprio riso,
Não há razão que impere.
Na oração, quem te espera,
Espera por um qualquer momento ou por um rompante
Em que apareças sem outro acompanhante,
Caminhe adiante. Frente aos olhos,
digas de tudo, desde que não sejas sincera.
Em um amor, uma demonstração qualquer,
algo extravagante.
Que tagarele sussurros benditos
Ditos ao ouvido em tom atenuante
E que o desgosto sela.
Mas não há graça, nas tuas graças,
Feios vazios que há nos vazios,
Em tantos rios que passam ao arrepio
De quem com as mesmas águas quer querer se acostumar.
Todo qual que desarranjas por entre as franjas dos teus braços
Viveu afagos, mas embarcou em embaraços,
Sentiu martírios em cansaço
Na angústia tardia de querer ficar.
Feito coisas boas que depois passam,
Vidros que embaçam,
Cintos que desafivelem
São teus traços, teus espaços, os teus laços.
Que inebriam e acalmam,
Mas dores trazem à alma.
Só servem à pele.
(Diogo Verri Garcia, Rio de Janeiro, 15/02/2019)
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