O Carioca Hipotérmico
Por: Diogo Verri Garcia
Protegei-me, alguém,
do tão frio incauto
Que flagela e traz maus-tratos
À medida que esfria.
Eis que logo aos quinze graus,
Carioca já sofre hipotermia.
Não vejo razão nos que acham
esse agorento frio, no Rio, tão fofo.
Não há lareira em minha sala,
Devo descer roupas quentes da mala,
No mercado, armários de vinho esvaziam,
Pois, aqui, o inverno faz até calor, nunca frio.
E meus livros já temem o mofo.
Juro que acalento a frieza do tempo,
Não sendo este, pois, só um sem intento reclamo,
Eis que em outros lugares que tão bem guardo e amo,
deve haver alguns dias friorentos,
Vendo cair a neve sobre os arbustos e pisos,
Assistindo à branquidão criar um respirar gelado.
Pois que, assim, juro que até procuro o frio,
Seja rente, em Petrópolis, já na serra do Rio;
Seja mais longe, em Santiago.
Contudo,
Por cá, esse tempo não causa bem, não assente.
Os bares não têm aquecedor ambiente,
As praias nos expõem a um vento que sopra engabelado,
Pois deveria ser algo quente ao soprar pelas beiras.
É lugar em que não se projetam lareiras,
apenas ar-condicionado.
Por isso, rogo ao vinho que quiser levar,
A todo alguém que me possa ouvir.
Peço por um lugar quente,
Se não for muito pedir,
se não houver motivo a negar;
E por rever o tal calor que não demora.
Pois carioca não merece
ter tanto frio no Rio, sua casa,
Só fora.
(Diogo Verri Garcia, Rio, 05/08/2019)