A cabeceira dois.
Por: Diogo Verri Garcia
Passou mais um, em compasso lento, aguardando na cabeceira dois.
Não na vinte, eis que não permite o vento;
nem em outra mais, pois não existe a três.
Antes, passaram tempos,
Passaram tantos, quem perdeu as contas, que voltou a vez.
Fazia dias que não olhava à sua volta
prostrada às costas a janela,
Onde laborava o sol todo prosa ao nascer.
De lá, onde se via o mar, cego,
Deixava a janela entrepassava
E acendia as luzes,
Para que fosse possibilitado ver.
Mas um dia o sol, de calor que arde feito vela,
Aproveitou-se da janela mal fechada
– a sempre cerrada janela -,
De frestas em frestas, refletiu na tela,
ocupou a sala.
De modo que a luz abafada,
De ar feio, virou paisagem em veraneio
Quando subiu a tranca,
permitiu-se a brisa, abriu as cortinas.
Era uma manhã tão clara.
E então notou que passava outro mais,
Mirando a cabeceira dois.
Assim como barcos rumo ao cais.
Havia a tal paz que agrada; que já se exacerbara.
Era o mesmo mundo,
mas entrou o sol ao abriu a janela:
Viu-se a Guanabara.
(Diogo Verri Garcia, Rio de Janeiro, 18/10/2019)
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