A Hora do Só
Por: Diogo Verri Garcia
“A Hora do Só”
Quando apressa-se em achegar a madrugada
Em que me finjo aos outros desfraterno,
Pois não há mal que faça um ruído, um nada.
Permaneço só, privado da distração malfamada,
Pois é nesta hora apenas
que tenho no silêncio um subalterno.
Diferente de quando toca a alvorada
E tudo mais insiste em dizer: – é dia!
O zelador que canta, o cão que persiste e ladra,
Até o vigário que, sem culpa alguma, Deus lhe valha,
Faz em minha porta romaria.
Até quem nunca, por razão alguma, me chama,
Insiste em fazer-me atender telefonema.
Assim, as horas voam, com sol lá claro,
E eu, já tão aprazado,
Aguço-me em ver a distração que é a menor dentre as pequenas.
Por isso, quando tudo se cala
E o céu sente sono,
Anoto: ter café vale igual a ter palavras.
Estando madrugada,
Sinto-me como se um minuto fosse longo; que a pressa desse abono.
Quando antes, ainda claro,
Cada segundo me calava.
(Rio de Janeiro, 09/12/19, 2h05)
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