Réquiem pelo verso
Por: Diogo Verri Garcia
(Réquiem pelo verso)
Há momento
De quem reverbera a própria parada.
E se dá um descanso,
Tão mais breve que o tempo seja
Tão mais calmo quanto a tudo veja,
Sem que haja em sua sorte sequer
Uma luz apagada.
Afinal é parada, só parada.
Pois é chama que reluz quando cansa,
E mesmo assim permanece acesa.
Aparente e mais mansa
Que o sono leve em prontidão,
É instante de tudo mais, então.
Projetando algum jeito de a paz perenar,
Talvez sem fazer que pareça.
Já se aflita essa chama,
Pois se enfastia e se agita.
Nem por tão exausta,
pois da própria vontade será a alma sua única dona.
Ali se afiança em não haver sorte vã
E vê-se com culpa por querer dormir seu próprio abono,
Mas confiante no tempo que se abrirá amanhã.
O solo é o mesmo, e rega,
Sem o qual nem espinhos nem flores dão,
Pois o risco do amor é o ódio,
O peso da entrega é a saudade,
O contraponto da paixão é o abandono,
O anteparo da mentira, a felicidade.
E quem amou de verdade a si, esquece o resto.
É aquele que guarda de outrem tão só decepção.
Pois se fez amor sofrer, amou em vão;
Mas se foi sofrido, quebrou o tédio.
E transformou a finda paz em poemas,
E se zangou e depois riu, recordando a disparidade
De quem partiu e de quem deixou saudade
E de quem foi só capítulo para mais um verso.
E chega a parada finda.
Mais rápida do que se esperava,
Mais incauta que o momento que tanto abomina.
Mas chega a querer a paz,
Que é a brisa mais leve,
Pois o tempo vai,
e sempre se esvai.
Então, que seja breve.
(Diogo Verri Garcia, Rio, 18 de dezembro de 2019)
Imagem de Suzeet Twanabasu por Pixabay