Carta em entrevista
Por: Diogo Verri Garcia
(Carta em entrevista)
Se a vida fosse sempre calada e nada incerta,
Passaria discreta,
Sem qualquer conotação.
Haveria só dores literais ou iguais sorrisos,
Talvez nada que opusesse a vida ideal que avalizo,
Porém sem o que nos elevasse além do chão.
Se a vida fosse sempre reta,
Seria dessalgada, descomprometida e não compromissada,
Talvez até sem razão de ser.
Não haveria o rubor das praças
Ou a graça do sons dos mares,
Nem as boas obras de milhões de exemplares,
Nada de bom a se tão bem viver.
Por essa razão que essa entrevista, tida em caminhada,
É muito mais do que jornada,
É tempo que conta,
Mesmo face ao nosso reclamo,
Em que pedimos ao tempo para pausar.
É rotação que roda igual para quem não quer parada,
Para quem quer só ter tudo, quando levará um nada,
Ou para quem só tem em contas
o amor que quer amar.
Se a vida fosse sempre reta e completa,
Não haveria pranto latente, desforço, nem meta
E a saudade só seria para os bem presentes,
Para fazer ainda mais felizes os já contentes,
E os descontentes, abandonar pelo caminho.
Mas se a vida fosse toda ajustada, não haveria poeta,
Pois, primordialmente, é quando a tristeza dá alerta,
Quando o amor capaz nos mata,
Ou o amor mordaz nos cega,
Que o verso deixa de vencer à prestação.
E vem se valendo de nós, feito toda uma reza,
chega de uma vez,
sozinho,
em inspiração.
(Diogo Verri Garcia, Rio de Janeiro, 10/05/2020)
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