Bússola
Por: Bianca Latini

Bússola
A gente olha, mas não vê
Vê, mas não enxerga
Daí quando enxerga, não sente
E enquanto não sente, a gente mente
Pra gente mesmo
Consequentemente, para todos a nossa volta
Para sustentar toda essa rede de mentiras
A gente se veste, se fantasia, se esconde,
se soterra, se emperra, se entrava,
se esquece, adormece, esmorece…
Se perde e depois não se acha
Não se encontra
Não vê graça na vida, nem colorido nos sorrisos
Não vê sentido em existir e se pergunta: “o que tô fazendo aqui?”
Daí,ou a gente afunda nesse vazio, nesse abismo, nessa cratera sem fundo,
Ou tenta resgatar o prumo
Entender onde foi que errou na mão
Que ingrediente da receita foi exagerado, ausente ou insuficiente
Nessa busca recapitulativa, a gente volta às pistas, às setas, às placas, aos semáforos, às lombadas, aos faróis de neblina, aos cruzamentos, aos avisos de pista escorregadia e de curva perigosa, aos alertas de falta de óleo, gasolina e, principalmente, de descarregamento de bateria
É nesse momento, ao soar da lembrança do perigo, que sempre esteve nessa viagem, que a gente recorda do que passou despercebido
Por excesso de velocidade, falta de atenção, de verdade
É aí que a gente pisa no freio e
decide escutar a maior bússola veicular humana: coração
Dá meia volta e retorna exatamente para o lugar de onde se veio.