Na Virada da Curva
Por: Bianca Latini

Na virada da curva
Ninguém é tão fechado, que não possa ser aberto
Ninguém é tão antiquado, que não possa ser moderno
Ninguém é tão retrógrado, que não possa andar pra frente
Ninguém é tão ranzinza, que não possa se alegrar
Ninguém é tão normal, que não possa ser maluco
Ninguém é tão habitual, que não possa dar rompante
Ninguém é tão adormecido, que não possa despertar
Há que se achar o ponto de inflexão, a brecha, o gatilho de mutação
Na virada da curva: aquela percepção
A caída de ficha
Às vezes até de orelhão!
Pode ser na caminhada em contramão
Na invertida de ponta-cabeça
No canto de um pássaro
No incrível pôr do sol
No sussuro da cigarra
Pode ser um nascimento
Uma morte
Um soneto
Um grave ou o mais elevado soprano
Pode ser a chuva que cai
O caldo que entorna
A separação
A frustração
A doença
A desceleração forçada
Pode ser um baita susto
Um revés financeiro
Um reencontro
Um desencontro
Uma confusão
Um pegar de sopetão
A oportunidade que despenca na sua mão…
Afinal, todo dia é dia
Todo tempo é tempo
De refletir, perceber, se autoconhecer
Não gostar do que se vê
Ressignificar, mutacionar,
virar do avesso
Demolir, reconstruir
Romper, decodificar
Depois silenciar, agregar, evoluir
Seguir a caminhar…
Continuada e descontinuadamente
Vai depender da vertente
Mas, SEMPRE, conectado com o que se sente
Com o pulsar da semente, do grão
Do polén
Do embrião
Bianca Latini
Créditos da imagem: Unsplash