Águas imersas, emergir, imergir

Por: Priscila Menino

Águas imersas, emergir, imergir.

A água estava agitada quase sempre, ela estava imersa, olhava para cima e via as imagens meio abstratas, achava que aquele era o seu normal.
Olhava, mas não via.
Respirava, mas não era o bastante, estava afogada pelas águas movimentadas.
Sentia que aquele lugar era particularmente íntimo, mas, na mesma proporção, sentia o desconforto de não ver com a clareza.
Ela sentia que ainda não era a hora de sair da submersão, era preciso esperar acalmar, esperar maior clareza para ter a segurança do que estava sentindo.
Permitiu respirar mais calmamente, parou de se debater e foi vendo as águas alcançando maior quietude, observou que as formas estavam mais nítidas em seus olhos. Sentiu maior curiosidade.
Resolveu dar levar braçadas e buscar aquela luz acima de sua cabeça. Uma, duas, três braçadas, as formas iam ganhando mais nitidez.
Chegou a superfície, não podia acreditar que durante todo aquele tempo ela estava imersa de águas que não a deixavam respirar puramente o ar e ver as formas com aquela clarividência toda.
Mal ela podia acreditar que achava que o mundo tinha aquele tons abstratos, achava que aquele era o real.
Mas agora ela via as formas claramente, via seus perfeitos tons e contornos, estava consciente, estava presente.
Vez ou outra ela volta a dar mergulhos na água e ver as formas abstratas novamente, apenas para ver de onde ela emergiu e lembrar que nem tudo que parece, é. Sábia, menina.

Por Priscila Menino


Créditos da imagem: Unsplash

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