Por: Raquel Alves Tobias

Ela estava doente.
Respirava rapidamente entre gemidos fracos.
Seria apenas um retorno, não para hoje, para amanhã.
Mas a mãe achou que não aguentaria até lá, então antecipou a reavaliação.
Os familiares aguardavam pacientemente.
Em meio a sorrisos, falavam de outros assuntos, felinos também.
Dentro da caixa, Nina seguia ofegante, enquanto ronronava palavras pausadas.
Sua mãe pegou-a no colo.
Em pé, à quatro patas, ela deu alguns passos desequilibrados em círculos sobre as coxas de sua cuidadora.
Estava fraca, muito fraca.
Inquieta, voltou para a sua caixa-apoio.
E, no chão, esperou.
Todos esperaram.
Talvez soubessem da gravidade, talvez não.
Talvez fosse culpa daquela mordida na planta tóxica do jardim de casa.
Talvez fosse culpa da infecção causada pelo ferimento de um espinho na pata.
Talvez fosse culpa do final de semana que interrompeu a sequência de feiras.
Talvez fosse culpa da falta do aviso de urgência.
Talvez fosse culpa da espera.
Talvez nunca fosse a culpa.
Talvez fosse apenas a hora.
Agora.
Nos olhos do doutor a resposta da pergunta que não queria perguntar.
Não há, então, esperança de recomeçar?
Depois do grito, os espasmos cíclicos tônico-clônicos.
A gravidade esperou calada,
tomou água açucarada amarelo-camomila.
Até o copo descartável, flácido, adaptou-se.
Adaptaram-se todos.
Os soluços, os goles e as lágrimas.
Ela não seria jogada no lixo, prometeram.
Colocaram novamente as máscaras e saíram pela porta da frente.
A vida seguia a goladas.
Raquel Alves Tobias
Créditos da imagem: Pixabay