Templo
Por: Mauricio Luz

Templo
Suas folhas formam um tapete
No qual meus pés caminham com reverência
Sento-me à sua sombra
Olho para as flores que enfeitam sua copa
Um convite, um chamamento
Às abelhas e marimbondos que passeiam no jardim aéreo
Um pássaro chega. Ele escolheu seus galhos
Para abrigar o berço de um novo milagre que virá
Sinto seu tronco, a firmeza com que se finca no solo
E o vigor de como se lançou no espaço
Confiante nas asas forjadas nas suas raízes
Logo seus frutos virão
Doces úteros no qual a vida se faz presente
De onde veio?
Como chegou aqui?
Que profundo mistério o fez crescer?
O que o faz combinar os elementos em uma sagrada orgia
E trazer a vida ao mundo?
Que o fez sair da pequena semente
Para a folha que cai serena, acariciando minha fronte com um terno beijo?
Ah! Cegos aqueles que veem o sagrado apenas no altar
Impossível se enxergar além do que se deseja ver!
Loucos aqueles que limitam o Universo às suas razões!
Jamais serão capazes de ouvir a oração sussurrada
Eternamente entre as suas folhas ou na própria respiração
Outra folha me beija, trazendo consolo em seu toque
“Esqueça-os, poeta!” – Você me diz – “Esqueça-os!”
“Ou não se lembrará que você também é mistério!”
“Viva o momento com doçura. Conceda sua sombra e frutos sem escolha”
“Pois todos mergulharemos no desconhecido”
“Mas apenas aqueles que sentiram o valor da vida”
“Estarão prontos para o abraço da morte.”
E no templo de folhas, seiva, flores e frutos
Ouço o som do milagre, do desconhecido
Que une todos os seres em apenas Um
De onde veio?
Como chegou aqui?
Que profundo mistério o fez crescer?
Uma folha cai. Um pássaro canta.
E eu sinto.
Mauricio Luz
Créditos da imagem: Pixabay