Acostamento do céu
Por: Priscila Menino

Acostamento do céu
Na fila de embarque, prestes a entrar no avião, na minha frente estava um casal de senhores.
Nitidamente, a mulher estava com expressão de pânico do voo vindouro, enquanto o senhor ao seu lado a tentava acalmar, achando até graça da situação.
Acabei ouvindo a senhora dizer que o maior medo dela era que qualquer problema mecânico, no céu não teria acostamento para parar e ajeitar, era só queda sem segunda chance.
A senhora estava com receio real de não ter um acostamento para parar em meio a um pouco provável pane na aeronave, ao ponto de estar congelada antes mesmo de embarcar, cogitando não ir mais.
Intriguei-me pensando nisso.
Qual a lógica do raciocínio de que ter ou não acostamento pode salvar a vida da pessoa?
Afinal, pensei, se é chegada a nossa hora, pode haver o maior acostamento do mundo, mas não será suficiente, simplesmente partiremos rumo ao desconhecido.
Estranhamente, nós seres humanos temos necessidade de estarmos controlando a vida.
Acabamos nos privando de algo com medo de perdermos essa falsa sensação de controle.
Mas é fato que independente de acostamento ou não, nada está em nosso controle total, até mesmo o ato vital de respirar pode ser feito de maneira inconsciente, queria você ou não.
Claro que, por outro lado, o planejamento mínimo da vida nos dá uma orientação, mas a qualquer momento a rota pode mudar e pode ser necessário arremeter.
Portanto, penso que é muito melhor acreditar e decolar na vida, aproveitar a paisagem e garantir que, quando chegar a nossa hora da partida final, tenhamos embarcado em vários voos de alegria.
Por: Priscila Menino
Créditos da imagem: Unsplash