Poema de vigília
Por: Renato T. de Miguel
Ao toque do sino
Vibraram tuas velas
Convoco as funestas baladas
Sorvi teu incenso
Soprei a bruma ocre
Sorri à iminente jornada
Sei bem quem és tu
Teus dias escuros
Teu peito ligeiro a arder
A ânsia de um fraco
A farsa em tocaia
Teu grito em silêncio, ó prazer!
Sou quem tu procuras
Nos becos da alma
Teus medos são bestas aladas
A razão tão distante
Qual lua minguante
Bravura, uma fera esgotada
Servi, tão contente
O sangue em teus lábios
Farejo o terror trovejar
A morte te segue
Os olhos já falham
À alma só resta chorar
Não há mais sentidos
Tampouco há razão (eu sei)
Encarno e contemplo teus medos
Os monstros se erguem
Brandindo navalhas
Teu lar é um deserto desfeito
Loucura! É o que dizes
Teu sangue não mente
Escorre das mãos à cabeça
Seus olhos fechados
E os punhos cerrados
Aprendem a velar a tristeza
Mas nunca me culpe;
E aqui lhe questiono:
Anseias ainda acordar?
Vá entorpecido
Curvado e ferido.
Ao menos consegues sonhar.
Renato Miguel, 29/07/2018
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Créditos da imagem: Disponível em: < https://pixabay.com >. Acesso em: 29 jul. 2018.