Poema de uma só passagem
Por: Diogo Verri Garcia
Tento fazer um poema de uma só passagem
Na tentativa de fazer com que qualquer verso
que me venha à boca
e que da alma saia
exprima-se em suas letras,
Expresse sempre a melhor tiragem,
Traga a todos a melhor imagem.
Um poema que tenha sonoridade
Daquelas que jamais se fez tão benquista.
Que fale de tudo mais que aprouver,
Notando como a vida sobra e alegra
quando a paz, em si, é sentida
e bem vista.
Procuro um verso
que detenha o bom declamante, uma voz.
Falo de um poema que não precise de remendo,
Que não dê azo a referendos
que não desfrute de nós.
Nos primeiros passos, tanto os versos bem correm
que até assustam e motivam,
Feitos as noites que naturalmente vão,
até o sono incidir.
Assim segue, segundo os planos, o verso,
Como as palavras fortes de um refrão,
as tardes longas no verão,
ou o vindouro inverno a se fazer sentir.
São novas rimas, que pouco a pouco,
de alma boa e boêmia se autoapetecem.
Se socorrem da boa palavra, entretêm e entretecem.
Que se acolhem nos seus próprios cantos,
e nada há de queixumes ou reclamos:
Até agora, o tal poema acontece.
Mas o que haverá se eu retomar o início
e deixar inacabado, posto de lado,
tudo aquilo que já registrei?
Será que o mesmo papel aceita tal como eu assinto
ser reescrito,
ou é ar que gradualmente estraga o vinho tinto?
Será que porta-se em propagar tal como, versando, rezo?
Em anotar como eu versei?
Era só tentativa de um poema
Feito de uma só passagem,
Ainda que a criatividade não me honrasse,
nem me desse hospedagem,
Insistiria tentando, ao menos, em tentar.
Em pensar em algo que é bom e que caiba ao verso,
Sem um intento não só de sucesso;
nada oportuno: apenas tentando em escrever, a levar…
Mesmo quando não há nem brisa, nem a menor aragem a abrandar.
São versos de passagem:
então, sem paixões, que os deixemos ficar
Ou que o vejamos amargar.
E, ansioso, questiono
se gostarão dos meus versos, ou não,
de passagem.
Fico inoportuno, em sondagem, inquieto a saber.
Por certo, hoje, apegado, a resposta correta não tenho.
Mas amanhã saberá, nunca eu:
só conhecerá quem os ler.
(Diogo Verri Garcia, Rio de Janeiro, 22/02/2019)
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