Poema em clausura
Por: Diogo Verri Garcia
Poema em clausura
O verso era longo demais,
Para permitir caminhar por aí.
Para ter cada passo firme,
ou passo que jaz.
Para ter o caminhar sincero
como o poema que mais
caminha sozinho,
mesmo sem ter doçura.
Porque o verso pensou:
-será que sou só literatura
Ou se sou traço de algo mais,
feito a rima que traz,
calor, amor e candura?
O verso não estava preso,
Só o poeta andava enclausurado,
Enquanto o mundo vivia a doença.
Ao ver a cidade parada,
Ao ver nada mais ser lotado,
Aguardava que a vida
retomasse em convalescença.
Era forma de ter o mundo sem deixar o lugar,
De reviver seus antigos e novos amores,
Sem nem poder ir beijar.
Mas o verso, bem que podia sair, andar, mas não quis.
O verso poderia zarpar, mas fincou raiz
Porque achou triste demais ser verso alegre
Em tempo em que a tristeza se faz, para uns, o albergue
E achou que era falho também ser verso triste,
Em momento em que ter esperança
É o bem que existe.
(Diogo Verri Garcia, Rio de Janeiro, 03/06/2020)
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