Acumuladores

Por: Bianca Latini

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Acumuladores

Quando pensamos em “acumuladores”, logo vem à mente aquelas pessoas tralheiras, que guardam muitas coisas materiais, quinquilharias…                                                                                                                                  Aquelas que tem os cômodos de casa todos abarrotados de móveis, roupas, objetos, malas, livros, sapatos, vasos, caixas, ferramentas, pertences…
Mas será que nós, que torcemos o nariz para esses “acumuladores” e chegamos até a sentir cheiro de mofo e de entulho em nossas narinas, quando pensamos nessas pessoas, não pertencemos, também, à categoria em que eles foram enquadrados?
E toda energia ruim que guardamos em nossos corpos e não colocamos para fora?
E os vários escritos que escrevemos e nunca lemos ou partilhamos com alguém?
E o arsenal de ideias que brotam em nossas mentes, mas não colocamos em prática? Entopem as nossas artérias criativas, sem ter vasão, escoamento…
E o monte de beijos e abraços que não distribuímos, por medo de ser carente, inadequado, meloso ou fora de contexto?
E a infinidade de elogios que não transmitimos ao outro, a quem admiramos por toda a vida, naquele momento, naquele dia, por uma atitude ou, simplesmente, porque ele estava especialmente bonito ou gentil num determinado instante?
E as raivas, dissabores, amargores, frustrações que acumulamos debaixo do tapete sem nunca faxinar? Sem nunca passar um pano, varrer ou ao menos constatar que eles estão lá?
E os anos de conhecimento adquirido que lotam nossos cofres mentais, sem nunca termos feito quaisquer atos de cessão, partilha, doação, transferência, aporte, ou até mesmo cheque em branco para algum necessitado?
E as inúmeras tarefas e listas de produtividade a que nos impomos, assoberbando nossos dias, atolando nosso tempo livre, impossibilitando o ócio contemplativo, o frescor do vazio?
E os incontáveis quereres, talentos, lazeres, prazeres, dos quais nunca desfrutamos por julgarmos não ter tempo, idade ou legitimidade para tanto?
E aquelas listas sem fim de desejos secretos que guardamos em baús, envelopes, gavetas, sótãos, porões?
E quanto à variedade de medos e limitações a que nos impomos, numa quase inocente sabedoria de guardar relíquias?
Sem falar na quantidade de informações tóxicas, inúteis e sem sentido que deixamos sobrepujar às horas de brincadeiras com nossos filhos, aos momentos de risadas com nossos companheiros, os jantares com nossa família, aos encontros com nosso amigos?
E o monte de julgamentos, preconceitos e moldes pré-fabricados que obstruem nossas veias e não permitem nosso sangue fluir?
Ainda: tantos sonhos que deixamos dormindo no quartinho dos fundos da nossa casa corpórea?
E as camadas de cascas, carapaças, máscaras, vestimentas artificiais e convenientes que acoplamos à nossa verdadeira alma, essência, espírito ou qualquer outra palavra que signifique o nosso Eu mais profundo….sem depois não sabermos, nem mais, quem realmente somos?
E então?! Quem são mesmos estes acumuladores soterrados em escombros e bugigangas sem serventia??

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