Bonsai
Por: Mauricio Luz

Bonsai
Como ousas? Como se atreve a brilhar tanto?
Com que audácia és autêntico e se mostra para o mundo?
Eu me submeti aquilo que me ordenaram
Acreditei no que me disseram as pessoas que eu amava
E que me amavam muito
Mas não a ponto de permitir me amar
Do jeito que eu quisera
Passivo, segui as trilhas que me deram
Ativo em ser aceito e considerado.
Pelo caminho, deixei sonhos e fantasias.
Busquei a ordem e a primazia.
Eu me formei, conformei, deformei.
E uma felicidade de plástico eu alcancei.
Aí, você vem.
Quer ser você.
Vem você, que sai do armário.
Que vive de arte, clamando poesias em troca de poucas moedas.
Que canta nas noites, embalando a boemia,
Que sorri quando quer sorrir, chora quando quer chorar.
Aí, você vem!
E apenas sendo,
Joga na minha cara a coragem
Que eu não tive em ser eu mesmo.
Apenas sendo,
Desmente a minha compaixão ensaiada,
Minha humanidade certificada.
Você vem!
E apenas sendo,
Cospe na artificialidade na qual eu me moldei
E chuta os castelos de mármore que construí
Sobre as areias de regras sem sentido.
Você vem!
E como um implacável espelho
Me mostra as marcas que lutei tanto para esconder
As cicatrizes do que amputei para me encaixar
As rugas do tempo que se foi para que eu não fosse.
E quer minha consideração? O meu abraço?
Eu não consigo! Eu não posso!
Meus olhos se acostumaram à escuridão
E doem à luz da menor chama da menor vela.
Tudo que ilumina meus recantos escondidos,
Minhas gavetas, meus baús secretos,
Precisa ser apagado e eu continue
Na paz sombria que vivo.
Vá embora! Não te quero aqui!
Pára de me lembrar do que poderia ter sido
Se não fosse o molde, o corte, o formato!
Sou um bonsai humano
A potência da árvore
Reduzida a uma planta de vaso.
Mauricio Luz
Créditos da imagem: Pixabay