Duas Estações
Por: Diogo Verri Garcia
Quem reza por duas orações
Acaba se enganando e caminhando a pé
É como pretender ter dois quinhões,
duas prendas, duas estações;
No mar, duas marés.
Aprenda que nem tudo que alimenta, que é bom em sinergia,
Deve ser dobrado, para ser tido em dubiedade.
É bom viver feliz, na causa que nos contagia,
Mas se pretenderes a mais,
causará furor; virará vaidade.
Veja que te projeta a luz, o sol que aqui brilha.
Assim como na estação toca uma melodia,
em tom que, tanto faz, se maior ou menor.
Há sintonia; se fossem dois sóis, não haveria noite, só dia.
Tocados ao mesmo tempo, confusos aos ouvidos,
os sons não soariam o melhor.
Com essa fala, que passa em tempos
tão longos como fios de cabelos em mecha,
O pensamento feito flecha,
Daquelas que rasgam e acertam
Menos o que se mostrou e mais o que se escondeu.
Eu sei: em um sopro de ingenuidade que aparece, risonha, sincera,
Depois de tempos remidos, em que o peito oprimido soluçou,
Recolhido na sombra, em mar de breu.
Veja: há sempre peças que se apresentam ao jogo
Jogado por francos, incautos,
por bobos…
E não há que cure muitas rezas,
Para viver em um rompante como o mais feliz;
Em outro, mal à beça.
A conclusão é certa:
O andor apadrinhando dois santos
Quer seguir o melhor, mas terá o maior dos prantos.
Não importa o quanto andou,
Não importa se mais bem do que mal fez.
Quem jura manter dois quinhões,
duas estações,
perderá todas as peças, finda a vez.
Quando a tragédia é revelada, amalgamada,
Dói a alma que amou,
mas que deu causa ao que amargou,
Perdeu por querer mais, pois fez.
Muito se saciou, mesmo não querendo ser voraz
Não haverá duas fés,
Não há no mar duas marés,
Não se abonou a insensatez.
Quando a paz acaba,
ressacada:
Inevitavelmente,
Inicia-se a dor. E os porquês.
(Diogo Verri Garcia, Rio de Janeiro, 2018)
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