Artistas da existência
Por: Juliana Latini

Artistas da existência
Quando não consigo ir mais a fundo na escavação do meu ser,
recebo o auxílio de outras arqueólogas que me dão a mão nessa jornada.
De um lado, vem o encorajamento, o apoio emocional e espiritual. De outro, a experiência, a técnica e a sensibilidade.
Nesse processo de autoconhecimento e cura, cada pedra que é tirada revela algo.
Aos poucos, me sinto mexida e remexida. Difícil de decifrar. Apenas sinto.
Sei que fico mais calada, mais pensativa…
Até que consigo interpretar uns vestígios. Algo ocorre em mim de dentro para fora.
Sinto-me como um grande “i” com o seu pingo fora do ângulo, sendo minuciosamente colocado sem eu devido lugar.
Após passar o desconforto, vem o alívio de ter dado mais um passo!
O novo entendimento, com o novo ângulo de enxergar as coisas, traz a satisfação e a libertação.
Sinto o leve movimento de rotação do meu centro de controle. Parece que estou fora de
órbita. Cada milímetro que altero o meu ângulo de enxergar as coisas, alteram a mira da proa do meu ser.
Sei que estou em direção a um novo horizonte.
O passo que dou dentro de mim, reflete o passo que dou no mundo exterior.
Cada detalhe me ajuda a desvendar a obra prima que estou a construir.
Somos artistas da nossa existência.
Tal como os arqueólogos ou os pintores, damos pinceladas nessa grande obra da vida.
Têm dias que queremos pintar com cores frias. Outros, com cores vivas, alegres.
Com o tempo, vamos aprendendo a nos perceber e a nos admirar.
Cada dia recebemos esse “pincel” para continuar a nossa obra.
Juliana Latini
Créditos da imagem: Freepik