Tributo à Legítima Defesa da Classe Média Sonegadora
Postado no 6 de setembro de 2018 Deixe um comentário
Por: Thiago Amério
Dizem que o tributo não é castigo, multa ou sanção.
Mentira, tributação é pena de prisão eterna.
Do parto ao enterro, tudo é “fato gerador”
o Estado quer almoçar, quem come é governador,
o prato é o suor dos outros, o tempero é o seu labor.
União, Estado, DF, e Município,
cada um quer um pedaço,
empanturram o (próprio) governo
e a sobra é dos pobres coitados.
Sobra pagar a conta da fartura,
sobra pagar a conta da fatura,
da escola e do hospital,
duas vezes, ao Estado e ao Liberal.
O primeiro cobra e não oferece.
O segundo oferece a quem pode ($).
O terceiro é a classe média:
trabalha até morrer
ou pra se educar,
ou pra sobreviver .
No Brasil, pra alguns,
sonegação é legítima defesa.
Ps. Não concordo com essa tese
Um erro não justifica o outro.
Mas é difícil defender o Estado.
Neste país ingerido por poucos.
Aquestos Finais.
Postado no 5 de setembro de 2018 Deixe um comentário
Por: Diogo Verri Garcia.
AQUESTOS FINAIS
Oremos
Para que nenhum mal adicional nos apareça;
Para que o improvável venha a nós com sutileza;
Para que, por felicidade, a vida se restabeleça.
Peçamos
Um pouco mais, face ao tanto que a rotina já nos dera;
Um ar mais leve, feito o começo de nossa paquera;
Um beijo de paz, sem dissabor – não um tapa de guerra.
Arrumemos
Um jarro novo, para o lugar do que quebrou por ser lançado;
Taças (em jogo), espatifadas no bar ao lado;
Um meio termo entre o indolente e o esforçado.
Dividimos
Os bons momentos, os juramentos, um pouco de tudo;
O bem maior, muitos prazeres, o nosso mundo;
Promessas feitas, que se perderam em segundos.
Repartiremos
Alguns retratos, outros farrapos, nossos caminhos;
Simples adornos, um só cachorro, o melhor vinho;
A sensação estranha e o prazer feliz de estar sozinho.
Talvez tenhamos:
Daqui a um tempo, versões mais nobres das nossas verdades;
Algumas lembranças das nossas danças, da nossa amizade;
Ao esbarramos, a impressão de que o passado traz saudade.
Merecemos,
Tuas palavras, que foram duras – tais quais as minhas;
O que passou, desde o amor às nossas rinhas,
Dos dias de sóis ao mar escuro que ao fim se tinha;
O que roubou o prazer, fez desgostar de você,
Também me fez merecer.
Além do mais,
Só oremos…
(Diogo Verri Garcia, Rio, 22/08/2018)
*poesia autoral
Créditos da Imagem: Pixabay
Necessito partir
Postado no 4 de setembro de 2018 Deixe um comentário
Por: Tadany Cargnin dos Santos
Necessito partir
Chegar até a estação
Adentrar outro veículo
Ter outras sensações na essência
Ouvir outros sons, sentir outros sabores
Escrever outras histórias, viver outros amores
Cair em outros buracos, sentir outras dores
Ver outras paisagens, cheirar outras flores
Esta cadeia existencial me atormenta
Por sua indecente imensidão
Enclausurado neste corpo que me esquenta
E também neste universo, mesma prisão
Quero abandonar esta família física
Desprender-me de relações efêmeras e tísicas
Cruzar a linha invisível deste manicômio
Torturado por antogônicos deuses e demônios
Ainda tenho que ficar, mas desejo partir
Nauseante dicotomia, sofrível existir
Torturado por compromissos passados, rótulos vencidos
Levado à deriva pela vida, de mim mesmo esquecido
Então, fico aqui pensando na partida
No doce adeus, pois não mais voltarei
Nas luzes que se acendem do outro lado, estação querida
Onde ainda estarei preso, mas quando lá chegar, tudo isto esquecerei.
Para citar este Poema:
Cargnin dos Santos, Tadany. Necessito Partir.www.tadany.org®
Caneta de Carga Acabada
Postado no 31 de agosto de 2018 Deixe um comentário
Por Alvaro Assis
Querida Caneta de Carga Acabada,
Nós que estivemos juntos por tantos e tantos poemas…
Lembro-me até de quando você se esquivou de escrever: obnubilado
Você tinha mesmo razão
Meter obnubilado neste coisa, não tem propósito algum
Sei que muitas e muitas vezes o frio secou sua tinta
E em vez de se esvair em azul, você queria mesmo era o conforto do estojo
Mas eu sempre lhe apresentava um bom motivo…
Como, por exemplo, uns versinhos para amada dormindo
Você bem sabe que a coisa mais bonita do mundo é ver a amada dormindo
E que a segunda coisa mais bonita é ler a ela um poeminha sob medida
Ah! Lembra-se da cerveja alvejando sua veste e eu te enxugando apressado?
Você meio mal humorada e eu só queria saber de fazer letra de samba
Que mulata quando passa quer ser matéria prima de enredo
Querida Amiga de Caligrafia Decorada
Se você fosse uma dessas chiques-douradas eu até lhe tentaria uma recarga
Porém, você é como eu, essa biczinha vulgar com data pra acabar
Mas eu, saudosista com tudo, pego-me a lembrar de tantos versos
Você apertada contra o suor de minhas mãos trêmulas de sonhos
Açoitando a folha de caderno, o guardanapo, a palma da outra mão
E não me venha escrever no celular, ou no tec-tec do computador
Era a mensagem que me vinha do seu pequeno olhinho marinho
Você é severa nesta coisa do fabrico das palavras
Ah! Querida Companheira Acrobata,
Escolher outra de sua marca seria uma traição sem categoria
Seria como cara que casa com a irmã da sua ex-mulher
Sucumbir aos caprichos de uma dessas enfeitadas
Seria dar corda à maledicência do capital
Quem sabe você não se sinta tão magoada
Se eu passar a compor com aquele lapisinho mil vezes apontado
Aquele que te esperava voltar pro estojo (esbaforida)
Só pra te ouvir contar as coisas que nós dois fazíamos
Eu e Você, Querida Caneta de Asas Quebradas.
Promessa (dez)cumprida
Postado no 30 de agosto de 2018 Deixe um comentário
Por: Thiago Amério
Dez mandamentos.
Alguns compromissos. Inúmeras promessas. Mesma conduta. Um grande sentimento: se as pessoas descumprem por que se comprometem?
Mar em Oração
Postado no 29 de agosto de 2018 Deixe um comentário
Por: Diogo Verri Garcia.
MAR EM ORAÇÃO
Seja forte, como o mar é forte,
Mas te amolde e te quebre como as ondas que batem.
Seja leve, como o mar é leve,
Com ondas breves, como as que rompem a tarde.
Seja bravo e te defenda do argumento,
Quanto te calarem o pranto e te pretenderem agonia.
Seja estupendo, feito o mar em tormento,
Se te transgredirem a luz, não permaneças em calmaria.
Veja a onda que explode e prensa o rochedo:
Seja fereza sem raiva; tem equilíbrio, tem paz.
O mar que alimenta e refresca: é servidão sem medo.
O mar que retira, repõe – nas ondas de leva e traz.
E quando o sublime solar pelo céu se exaltar,
Seja como o mar e reflita a luz que lhe toca.
Se acerque dos que te doam a paz sem te cobrar,
Tal qual um corpo de água salgada,
Que se cerca de terras nas bordas.
Mas se o céu te parecer mais cinza,
Não o espelhes na dúvida, olhe para o mais profundo de ti.
Não te tornes pedante, descrente ou ranzinza.
E te acalme: contenha-te do furor, do desamor, do frenesi.
Seja leve, como o mar é leve.
Feito as águas que chacoalham ao vento,
E que repousam tão logo a brisa pausar.
Trazem paz alheia ao amalgamento.
Seguem mansas e resilientes.
Sem apatia, são benevolentes.
Fortes e calmas, bem sabem:
Tudo tem o seu tempo.
(Diogo Verri Garcia, Rio de Janeiro, 16/08/18).
*poesia autoral.
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Créditos da imagem: Disponível em: < https://pixabay.com >. Acesso em: ago. 2018.
Viagem ao mundo dela
Postado no 28 de agosto de 2018 Deixe um comentário
Por: Tadany Cargnin dos Santos
Ela me convidou para viajar
Uma viagem ao desconhecido
Ao forâneo mundo de sua essência
Convite especial, preencheu minhas carências
Ela queria aventuras, revelar-se paulatinamente
Talvez encontrar-se, sem saber quem era
Aceitei afoito, excitação resplandecente
E a viagem iniciou, vindoura quimera
Nas montanhas de tua desesperança
Encontrei feridas que não queriam sarar
Nos vales de tua desconfiança
Encontrei amor parcelado, medo de se entregar
Quando cheguei no córrego de teus prazeres
Senti as delícias da humana paixão
E no amanhecer de teus afazeres
Observei as lágrimas de tua delilusão
No jardim de tuas fantasias
Encontrei raras flores de transcendência
No entardecer de tuas regalias
Vi cores vibrantes, horizontes em ascendência
No oráculo de teus anseios
Descobri íntimos desejos de união
Na escura caverna de teus receios
Encontrei monstros de uma antiga paixão
E a viagem seguiu, ela contente e inspirada
E eu, cada vez menos curioso, cada dia mais calado
Pois tenho pânico de sendas unidirecionadas
Mesmo que por isso seja, somente pela solidão, amado.
(Tadany – 03 01 15)
Para citar este Poema:
Cargnin dos Santos, Tadany. Viagem ao Mundo Dela.www.tadany.org®
As Janelas e os Vitrais
Postado no 26 de agosto de 2018 Deixe um comentário
Por Renato T. de Miguel
No mundo da lua, vez ou outra me via pensando em Camus. Ele dizia que o homem chega aos trinta e assim afirma sua juventude, ao mesmo tempo em que se põe diante do tempo e reconhece ali o seu inimigo; trata-se da morte, que se agiganta à sua frente e ordena: viva. Mas o caminho se esvai. Crescem as ervas em meio à estrada; árvores secas tombam no horizonte, escondendo a passagem.
A rebelião contra o absurdo é necessária. Do contrário, resta o suicídio filosófico, o abandono da razão. Seja como for, não há espaço para felicidade, a felicidade das grandes histórias… Há apenas…
Uma sombra? Não, eram as mãos dela abanando meu rosto, despertando-me do devaneio que o silêncio provocara.
– Ei, você está aí? O último capítulo vai ficar pra amanhã… E você, cansou de olhar pro teto? – Perguntou ela com um meio sorriso, os olhos grandes contemplando os meus, num brilho de curiosidade que me deixava sem graça. Ela me encarava feito uma criança que vê as ruas através das janelas fechadas, e em meio aos prédios enxerga o reflexo das próprias feições, distorcidas nas imperfeições e poeira da vidraça.
E eu estava ali parado, fitando-a como um homem de pouca fé que contempla, quieto, os raios filtrados pelos vitrais de uma igreja. Nada disse, apenas devolvi o sorriso torto. Deitada sobre a cama com as pernas estendidas uma sobre a outra, tirou os óculos, repousou sobre a escrivaninha o livro que segurava e afastou as cobertas de lado. Seguia me olhando em silêncio. Aguardando.
Nunca fui versado nos dialetos não verbais que toda gente aparenta entender tão bem. Isso parecia cativá-la. De todo modo, fui até ela e deitei ao seu lado, beijando-lhe o rosto. O riso fácil e os maneirismos afáveis vibravam como um chicote. Ela parecia feliz e sendo assim eu também estava. Porque pra mim tudo era muito simples, mas para ela tão diferente (às vezes eu penso que sou um menino, esse menino que ela sabe que eu sou).
Fazia frio e eu me aquecia com ela. Algo a fez sorrir de novo e eu não sabia o que dizer.
– Seus dentes são muito brancos.
Ela gargalhava.
Postado no 24 de agosto de 2018 Deixe um comentário
Por: Alvaro Assis.
Eu fico daqui imaginando palavras
Juntando fonemas que não se arrumam
Consoante, vogal, consoante, ditongo…
Eu olho pra sua cara e a letra se cala
Eu beijo fundo seus lábios e o vocábulo se desusa
E como um jogador, sem uma das pernas,
A caneta cega, depois da mente falir
O teclado se apaga, o idioma padece
E as mãos desaprendem a caligrafia mais simples…
Bê com á faz…?
E, com o resto da lira que tenho, escrevo estas sobras
Pois, em sua presença, o poeta se desfaz
Sem ter maneira digna de expressar palavra que te valha.
(Alvaro Assis)
CEP universal
Postado no 23 de agosto de 2018 Deixe um comentário
Por: Thiago Amério
Cada rua tem um número
Cada esquina uma vida
Por dentro do prédio,
Um monte de gente habita
Será selva de concreto
Ou urbanidade selvagem?
Decerto que o ter
Precede o ser
Por quê?
Qual animal reside
Na cabeça de quem é de dinheiro?
Humano do capital?
Ou alienígena social?
Sigamos em letras e na arte
Porque acima de todo número
Há um amor universal!