Flutuantes inspirações

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Por: Mona Vilardo

 – Porque que quando colocamos os pés no chão a brincadeira acaba? – Mafalda após parar o balanço.

Dia 2 de janeiro li a frase da Mafalda, essa personagem argentina cheia de voz.

Passei a virada do ano em Salvador praticamente embalada com o refrão “Tira o pé do chão” de Ivete Sangalo. Salvador e Ivete se completam como acarajé e vatapá, (acho melhor que pão com manteiga em se tratando da primeira capital do Brasil), não acham?

 Se completam também as tirinhas da Mafalda e movimentos de revolução – ou seria melhor dizer evolução?

Gosto das duas: Mafalda e Ivete, e me identifico com brincar de balanço e tirar o pé do chão. Uma metáfora sobre viver com alegria e leveza. Não se trata de um “deixa a vida me levar”, mas sim de manter um olhar lúdico nessa a montanha russa que é a vida.

Sendo atriz, a canção de Chico Buarque “Beatriz” sempre me encantou, e um verso em especial parece que fala diretamente a mim: “Me ensina a não andar com os pés no chão”.

Beatriz tem várias dentro de si: é moça, é contrário, é divina, é mentira e comédia. Como nós que também somos vários ao mesmo tempo. Milhões em um.

Mafalda, Ivete e Chico: acho que tenho boas inspirações para me acompanhar no ano que começa! Tirando o pé do chão se caminha a passos largos!

Topografia do terror

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o antigo quartel general 

da “polícia” de hitler 

virou um memorial 

aberto todo dia 

gratuito a quem for ver 

sem nenhuma área verde 

 

Porque nada pode crescer 

no lugar onde se ordenava

a morte por ser autêntico 

Judeus, ciganos, homossexuais,

Deficientes, todos diferentes 

E ao mesmo tempo iguais 

Na fatalidade inconsequente

 

Morte. Terror. Vazio doente.

Na busca por culpados

Sacrificaram inocentes.

Multiplicaram assassinatos.

Coisificaram inimigos.

Incendiaram abrigos.

O holocausto contra a vida.

 

Alemães se julgaram donos

Da verdade e da superioridade 

Esqueceram quem nós somos

E aniquilaram a humanidade 

 

Agora resgatam essa memória 

Para não mais esquecer 

E entrar pra a história

O que não pode se perder:

A dignidade do ser humano

E o respeito em todo jeito de ser 

Em Garopaba

Por: Diogo Verri Garcia

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Em Garopaba, até dia chuvoso encanta,
Observar baleias-francas no mar que tanto agrada.
O pesqueiro branco, de nome rubro Agostinho,
Do mar não volta sozinho,
O vento forte o afaga.

De montes verdes, areia escura e água clara,
O mar em Garopaba compete a beleza com o sol.
Por entre as praias, a vida encontrou enseada:
serena, tem tempo que não se acaba, na paciência da rede ou do anzol.

Por agora, faz-se intenso o céu cinzento.
As águas seguem o tempo briguento,
Espelham a cor, moldam-se ao vento,
Grisalho se torna o mar.
Se faz calor, em Garopaba também faz frio.
Não é viver janeiro no Rio, onde a brisa se recusa a gelar.

Despede-se o poeta que escreve a Garopaba.
Lugar a que não foi.
Por quem fotografou, conheceu:
O barco, a chuva e o vento em Garopaba,
o mar que não se acaba,
o mar que almiranta.
E escreveu: em Garopaba, até dia chuvoso encanta.

(Diogo Verri Garcia, Rio de Janeiro – Garopaba, 05/01/2019)


Nota do autor: os versos foram inspirados na imagem do fotógrafo gaúcho e amigo de longa data Ricardo Moglia Pedra. O clique, segundo ele, dado despretensiosamente, enquanto passava o fim de tarde em Garopaba, com sua família, retratou o barco branco (o pesqueiro Agostinho), o mar de Garopaba e o dia chuvoso. Logo abaixo da foto, foi posta por ele a legenda: “Em Garopaba, até dia chuvoso encanta”.


Créditos da imagem: Ricardo Moglia Pedra (@ricardomogliapedra). Acervo pessoal. Praia de Garopaba.

A Estrela

Por: Tadany Cargnin dos Santos

 

Uma estrela caiu no chão

Ela veio de outras galáxias, abrindo novas porteiras

Veio intensa, brilhante como um lampião

E ao bater no solo, seu calor gerou uma tímida fogueira

Ao que assisti como profunda admiração

E pensei ser uma cósmica e mística brincadeira

Então, nela joguei toda minha preocupação

Tudo o que era desnecessário, todas as asneiras

Cada deslize, cada dor e cada aversão

Cada papel inútil de dentro da carteira

E o que era uma singela chama, virou um fogueirão

Porque havia acumulado, mesmo sem querer, tanta besteira

Mas que a partir de agora, não mais existirão

Pois foram todas incendiadas, restando apenas uma bela clareira

Um novo espaço para reerguer a sagrada construção

Da estrela que quer brilhar, cintilar sem fronteiras.

 

PS: Para citar este Poema:

Cargnin dos Santos, Tadany. A Estrelawww.tadany.org®

 

A metamorfose do silêncio

Às vezes o silêncio vale mais do que mil palavras.
Torna-se o grito mais alto.
O som que contagia a melodia se disfarça em pausas.
Em constantes inspirações a arte respira.

Inspira. Infla.
Pira. Esvazia.
Preenche. Completa.

Surge a música do compasso desfeito.
O poema do papel abandonado.
A dança do sono estático.
A pintura do quadro desbotado.

Fartura.
O vazio se transforma. 
E a arte-resposta revive. 
Da voz da própria boca-muda,
Que ao falar colore o mundo. 

 

 

 

No tédio da realidade

 

Por: Tadany Cargnin dos Santos

 

No tédio da realidade

Encontro razões para a rebeldia

Dos pecaminosos pulpitos da mediocridade

Consegui desde há muito minha divina alforria

Das garras agourentas da licenciosa sociedade

Desvencilhei-me com encantadora alegria

Na tristeza peçonhenta da crueldade

Descubro avalanches de rancorosa covardia

Nos lentos e tediosos instantes da normalidade

Acho que a vida inexiste, humana desvalia

Nestes gloriosos segundos de inspiradora espontaneidade

Em palavras me desnudo, escravo eterno da poesia.

 

PS: Para citar este Poema:

Cargnin dos Santos, Tadany.No tédio da realidade.www.tadany.org®

 

À Zero Hora

Por: Diogo Verri Garcia

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O tempo é estampido
Quando o relógio vira,
Os fogos queimam e ascendem,
Um novo tempo almeja-se,
Os festejos transcendem.

Percebemos que doze meses atrás
Um pouco de mais era almejado.
Também fizemos promessas.
Talvez menos ou mais festejado.

Mas nada mudará; talvez tudo mudou.
Certamente um reluto, e o entusiasmo vigora como a mola da alma.
O propósito é como o vapor, um foco resoluto.
Engaja e impulsiona,
e vistas as resoluções, acalma.

Com o mesmo entusiasmo de hoje,
Doze meses atrás, era esperado o momento.
Como se um algo novo bastasse, pondo finda a vigência do que houve em outrora.
Por si, nada muda: a intencionalidade é irmã do tempo.
Mas já basta, a vida passa.
O relógio soa: zero hora.

(Diogo Verri Garcia, Rio, 29 de dezembro de 2018)


Créditos da imagem: pixabay

Correio versus Noel.

Por: Mona Vilardo

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Final de ano é tempo de repensar valores, promessas, sonhos. Tentamos construir em nós uma confiança sempre maior no ano que vai começar!

Confiança: normalmente pensamos nessa palavra quando falamos de traição amorosa entre homem e mulher, ou algo mais perto disso, como traição entre amigos. Mas hoje quero falar de confianças que quase nunca pensamos, e que estão diariamente acontecendo ao nosso lado.

Semana passada coloquei uma encomenda importante no correio e sai de lá praticamente achando que estava mandando a minha mãe embalada pra presente! Na minha cabeça eu falava: – Não desvia a minha mãe, moço do correio. Tô confiando em você!

Sério, saí de lá pensando muito nisso. Se o moço do correio decidisse, da cabeça dele, colocar minha mãe, quer dizer, minha encomenda em outro lugar, lote ou destino. Já e-r-a!!!!!!!! Então eu estava depositando ali não só a minha encomenda, mas toda a minha confiança naquele moço que eu vejo esporadicamente. Tipo nunca.

Querem mais um exemplo? Eu confio de olhos fechados no açougueiro do mercado de bairro. Se eu pedir um bife de alcatra e ele cortar acém, eu não vou desconfiar, acredito que nem na hora de comer! Eu não sou nada boa para cortes de carne, só sirvo para saborear e dizer se gosto ou não. No máximo identifico um cupim, uma língua…que é fácil de saber, concordam?

Criamos relações de confiança diariamente, às vezes sem perceber. E pra essas confianças banais, parece que não damos tanto valor.

Mas a verdade é que ninguém iria gostar de ter o paladar trapaceado pelo açougueiro ou a “mãe” não enviada pelo moço do correio.

Agora tô pensando aqui com as minhas desconfianças: – Será que quando não ganhei do Papai Noel o coelho que pedi no Natal de 1991 foi culpa do moço do correio? Porque no Papai Noel eu sempre confiei!

– Papai Noel, ano que vem te mando um zap! Correios, nunca mais.

Esse texto é dedicado à todas as crianças que propagam a magia do bom velhinho.

A Contenda Perfeita

Por: Diogo Verri Garcia

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Não se contenha em esperar que a vida
Seja a ementa perfeita dos anseios teus.
Leia tudo: não faça resenha corrida,
Pois os votos de Deus são mais extensos que os meus.

Neles haverá acalanto e resposta,
Muito embora não seja clara a leitura.
Neles se esperará que a vida por ti seja sempre proposta,
Com espírito leve, de tenaz aventura.

Exigirá desapego, resistência à dor.
Haverá pranto contumaz,
Surtos de paz e de leveza no amor.
Como tudo, não se mantenha à espera
Que a vida caminhe plena, para só fazê-la dar certo.
Não se envergonhe ou acanhe, vá!
Nem sempre a pausa é a razão dentre um compasso experto.

O tempo é caminho ligeiro e corre
na certeza incerta que o tempo sequer se percebeu.
Quem espera sua espera, de Deus um dia se socorre.
Mas este também te expecta e espera:
tolo daquele que jamais se resolveu.

Beija os que devas beijar
E abrace forte em ti os que desejas trazer.
Porque hoje é Natal
e amanhã logo será carnaval.
Agarra e abra: a vida é teu presente, outro melhor não há.
E ela passa voante, célere.
Por isso, não se contenha.

Diogo Verri Garcia, Rio, 25/12/2018


Créditos da imagem: pixabay

Venturoso

Por: Tadany Cargnin dos Santos

 

Os pés estavam cansados de caminhar pelas mesmas ruas

O coração estava exausto de amar a mesma deusa

Os braços estavam depauperados de abraçar os mesmos corpos

As mãos estavam enfastiadas de cumprimentar os mesmos sorrisos

Os olhos estavam entediados de observar a mesma paisagem

Os ouvidos estavam desesperados de ouvir a mesma ladainha

A mente estava esgotada de pensar na mesma rotina

Foi quando o corpo decidiu partir

Então, os pés recobraram a avidez de peregrinar

O coração pulsou por um novo sonho

Os braços agarraram-se a nova brisa que soprava

As mãos tocaram extasiadas as novas silhuetas que brilhavam

Os olhos cintilavam com o novo desenho terrenal

Os ouvidos exaltaram-se com a nova sinfonia

A mente renasceu com a nova aurora que se apresentava

E o corpo, ditoso, pensava exultante na próxima partida.

PS: Para citar este Poema:

Cargnin dos Santos, Tadany.Venturoso .www.tadany.org®